O presidente da Companhia Ambiental de Saneamento do Distrito Federal (Caesb), Luís Antônio de Almeida Reis, anunciou um investimento de R$ 3,2 bilhões até 2029 na capital. Ao CB.Poder — parceria entre Correio e TV Brasília — o presidente da companhia explicou às jornalistas Adriana Bernardes e Mariana Niederauer, que esses recursos serão voltados para captação, aumento de produção de água, diminuição de perda e melhoria nos sistemas de esgoto do DF.
Qual será o total de investimento para fazer melhorias no DF?
O governo investiu pouco mais de R$ 1 bilhão de 2019 até agora e isso foi investido e pago. O nosso plano de investimentos está em cima do nosso plano estratégico, que é de 5 em 5 anos. Temos o objetivo de até 2029 investir R$ 3,2 bilhões, que envolvem R$ 1 bilhão captados com financiamento BID (Banco Mundiale KFW (Bando de desenvolvimento), que são aquelas obras pré-definidas. Temos mais R$ 300 milhões que foram dois projetos selecionados no PAC (Plano de Aceleração do Crescimento). Estamos montando uma captação de R$ 1,1 bilhão por meio de debêntures incentivadas, que nós demos entrada no Ministério das Cidades. Nesses cinco anos, teremos R$ 1 bilhão de recursos próprios, R$ 200 milhões por ano. Então, chegamos nos R$ 3,2 bilhões que teremos que investir.
Quais são os pilares de prioridades para a Caesb?
Nós temos três pilares importantíssimos para Brasília, que é a segurança hídrica da população, que tivemos um trauma aqui, então ninguém pensa em passar mais por isso. Hoje nós estamos com uma situação bastante controlada na situação hídrica. Toda vez que eu falo isso, fico pensando que as pessoas vão interpretar que podem abrir a torneira e gastar muito, mas não é assim. Sempre reforço que a água é um elemento finito, a água tratada é finita e custa caro para ser distribuída. Mas hoje a gente tem uma situação bastante confortável de controle dessa situação hídrica. Estamos trabalhando com folga e sem dificuldade. Como nós somos um planalto, não temos grandes rios, grandes volumes de água, todo o esgoto tratado, que é despejado por meio dos efluentes, ele é despejado em corpos receptores que são de pequeno porte na maior parte do tempo. Precisamos que esse esgoto tenha um tratamento mais eficiente. Hoje, no Brasil, o Distrito Federal tem o melhor sistema do país, mas esse melhor precisa sempre estar sendo melhorado e aprimorado.
De onde vêm os recursos?
Com o BID, também temos muitos investimentos em estação de tratamento de esgoto e em diminuição de perdas. Temos que diminuir a perda, porque a perda é ruim. Para diminuir essas perdas vamos usar a setorização. Quanto mais você setoriza, mais você controla o sistema. Imagina que eu tenho uma rede que passa o Plano Piloto inteiro. É muito mais difícil eu controlar uma situação de perda, do que se eu tivesse esse mesmo sistema em 20 setores, cada um com o seu macromedidor. Quando eu setorizo, eu controlo melhor eu diminuo o vazamento. Para isso funcionar, preciso estar com a rede funcionando, investimentos em ampliação de redes e ramais. Além disso, temos um projeto de energia, que é ter energia renovável e barata. Além disso, a gente vai começar o financiamento do Banco KFW, que é um banco de fomento alemão. Nesse financiamento, estamos com um componente que é muito bacana, que inclui toda estação de tratamento de esgoto. Ela gera como subproduto gás metano, nós vamos pegar esse gás metano e transformar em energia.
A Caesb tem um planejamento para adequar essa rede às novas ocupações previstas no Setor de Indústrias Gráficas (SIG)?
Sim, não só no SIG, mas temos hoje um sistema muito grande de monitoramento e controle de todas as áreas do DF. O SIG não tem problema de abastecimento, mas sim problema de dimensionamento de rede, porque você dimensiona uma rede para uma casa onde moram cinco pessoas, de repente você constrói no mesmo terreno um prédio e vão morar 500 pessoas. Óbvio que a rede tem que ser alterada. Isso faz parte do nosso planejamento de substituição de redes e ramais. Não somente pelo aumento de demanda pontual de algum setor que teve um uso alterado, como o caso do SIG, mas também com o envelhecimento da rede original, causado normalmente por uma fadiga de material. Agradecemos a população quando ela demanda e reclama, porque a gente não tem olhos na cidade inteira.
De que forma as mudanças climáticas impactam o trabalho da Caesb?
O clima é o nosso ativo. Trabalhamos com a certeza de que as mudanças climáticas chegaram e que temos a certeza de que não temos certeza de nada do que vai acontecer. Apesar de todos os estudos de variações, o Rio Grande do Sul (a tragédia da enchente), no ano passado, foi uma lição para a gente. Ninguém, jamais alguém imaginou que o Aeroporto de Porto Alegre ia ter uma lâmina d'água em cima da pista e do pátio. Não existe a possibilidade de alguém ter previsto isso. Por isso, quanto mais segurança você tiver, mais você vai ter condição de planejar e organizar nas horas de carência.
Como a Caesb pretende ampliar o percentual dos níveis de água dos reservatórios?
Temos as termelétricas que são contratadas para ficar a maior parte do tempo desligadas. A nossa intenção é ampliarmos a capacidade de captação e tratamento dos reservatórios do Lago Paranoá e Corumbá, que temos outorga em ambos. Agora, queremos investir para ampliar o número de bombas adutoras de água bruta e água tratada, para que possamos disponibilizar nas horas de pico e, com isso, a gente possa manter os reservatórios do Descoberto e de Santa Maria em níveis mais adequados, melhores, sem deixar eles descerem muito. Outra coisa que nós estamos fazendo é a interligação dos sistemas, pois quando aumentamos a capacidade de adução de tratamento dessa água, conseguimos melhorar esse equilíbrio e planejar melhor.
Quais são os níveis hoje do Descoberto e Santa Maria que são os principais reservatórios?
O Descoberto, hoje, está com 100%, desde novembro de 2024. No ano passado, nessa mesma data, ele estava com 98%. Hoje, estamos com 68,5% em Santa Maria, na mesma época estava 49% no ano passado, então estamos melhor do que estávamos. A Caesb e a Adasa têm trabalhado em parceria para poder manter isso controlado e bem seguro para a população.
Quantas pessoas estão sendo atendidas pela Tarifa Social?
São 270 mil pessoas hoje. Esse programa foi implantado em 2020, com uma restrição, ele atendia aproximadamente 90 mil pessoas. A tarifa social beneficia o CPF, que tem inscrição no Cadúnico da Secretaria de Desenvolvimento Social e tem conta na Caesb, automaticamente tem uma redução de 50% na conta de água. O Sol Nascente, alguns anos atrás, era considerado uma das maiores favelas do Brasil. Atualmente, essa região tem 95% de fornecimento de água legal. Existe o hidrômetro na casa das pessoas, as pessoas ficam felizes, recebem a continha da água, pode comprar um liquidificador porque tem comprovante de endereço e isso é muito bacana. Temos previsto 20 mil ligações de água legal, em 2025, 10 mil em 2026.
Quais tem sido as demandas mais recorrentes?
Na época de chuva, sempre tem mais problema de buraco e esgoto. É uma questão de educação que temos feito até campanha na televisão, devido aos descartes de lixo em locais impróprios. Uma rede de esgoto não foi feita para você jogar um lençol dentro. As pessoas precisam entender que o esgoto é para esgoto e o lixo é na lata de lixo. São coisas diferentes.
O que é a Feira Internacional de Tecnologias de Saneamento Ambiental (Fitabes)?
É a maior feira de equipamentos de saneamento que acontece no Brasil. Ela acontece de dois em dois anos e na última edição, em 2023, em Belo Horizonte foi decidido que Brasília iria sediar neste ano. É um evento muito importante, porque além de ser uma cidade que é referência no saneamento, nós temos aqui os poderes, nossos deputados, senadores e ministros estão aqui. É uma feira que vai ter uma visibilidade muito grande para a população que se interessa.
Fonte Correio Braziliense