Se você passou pelos pontos mais movimentados de Brasília nos últimos dias, é bem provável que tenha visto alguém deslizando pelas ruas de patinete elétrico. O serviço, que vem ganhando cada vez mais adeptos, virou uma febre entre moradores e visitantes da capital. Práticos, rápidos e sustentáveis, os patinetes chegaram prometendo facilitar a mobilidade urbana e transformar pequenos deslocamentos em uma experiência divertida.
O serviço, operado pela empresa JET, faz parte do programa Vai de Bike e já está disponível em regiões como Águas Claras e Plano Piloto. Ao todo, foram disponibilizados 672 patinetes, equipados com amortecedores, farol, lanterna traseira, setas, freios dianteiro e traseiro com luz, buzina, indicador de velocidade e de nível de bateria, além de suporte para celular com carregamento por indução.
Os equipamentos circulam dentro de uma área delimitada pela empresa, e o usuário pode acompanhar os limites pelo aplicativo. Caso ultrapasse a área permitida, um alarme é acionado, e a equipe da JET entra em contato com o usuário. O patinete pode ser utilizado apenas por maiores de 18 anos, sendo permitido o cadastro de até cinco usuários em uma mesma conta.
A empresa ainda apoia iniciativas para melhorar a segurança rodoviária. Todas as viagens incluem seguro contra acidentes gratuito, nos principais pontos de circulação de veículos há orientações sobre o uso correto dos equipamentos.
Mas será que eles são tão seguros e acessíveis quanto parecem? Enquanto usuários destacam a praticidade do serviço, especialistas em mobilidade urbana alertam para desafios regulatórios e de segurança. Uma das questões que gera debate é a classificação desse tipo de equipamento. Conforme o Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), eles não são considerados veículos pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), sendo categorizados como "equipamentos de mobilidade individual autopropelidos".
Apesar disso, o especialista em mobilidade urbana Carlos Penna vê os itens como veículos propriamente. Além disso, ele reforça a necessidade de regulamentação mais rígida. “Ele é um meio de transporte. Se você está usando um patinete elétrico, ele é considerado um veículo. Veículo não pode ficar trafegando onde passa pedestre. Quando muito, ele pode usar ciclovia. Além disso, quem estiver pilotando tem de usar capacete, porque o risco de tombo e trauma craniano existe”, comenta.
O professor da Universidade de Brasília (UnBPaulo César Marques, especialista em Engenharia de Tráfego, também ressalta que o crescimento do uso destes itens pode trazer a necessidade mais regulamentação. “Se as pessoas se comportassem adequadamente, independentemente de estarem a bordo de um patinete, não haveria riscos. Mas, na prática, o uso abusivo pode gerar problemas. É preciso estabelecer uma regra mínima de convivência, pois ninguém pode usar esse meio de transporte de forma agressiva ou colocando outras pessoas em risco”, pontua.
Usuários
Para quem utilizou o serviço, os patinetes elétricos são uma alternativa prática para a locomoção diária e em momentos de diversão. É a primeira vez que Lucas Gabriel Viana, 18, estudante utiliza o equipamento, e o aprovou. O militar Emerson Araujo Pereira, 26, experimentou pela terceira vez, e considera estável e seguro: “Esse patinete é bem útil, é a nova moda aqui de Brasília. Sinto que ele é bem estável, isso dá uma segurança para nós usuários. Só o aplicativo que é mais ou menos, dá para melhorar um pouquinho, mas nós achamos muito útil”, disse.
Laiz Viana, 19 e Fabio Viana, 18, irmãos e moradores do Jardim Botânico, se divertiram ao testar o velocípede na Esplanada dos Ministérios para lazer. Laiz destaca que o patinete freia automaticamente ao atingir o limite de velocidade. "Não vi necessidade de utilizar capacete ou outros equipamentos de segurança. Se tiver responsabilidade, dá para andar sem a proteção. O aplicativo é bem tranquilo, bem explicativo, tem todas as orientações por lá", explica. Enquanto Fabio elogiou a praticidade do transporte. "Eu achei prático para usar, para se locomover e também para se divertir. Para lugares mais perto, acho que vai ser muito útil”, concluiu.
Apesar de facilitar deslocamentos cotidianos, o engenheiro civil e mestre em transportes urbanos pela Universidade de Brasília, Pastor Willy Taco, alerta que os patinetes devem ser utilizados com cautela. “Esse equipamento ajuda na micromobilidade, conectando os modos de transporte. Mas há riscos, pois ele não tem mecanismos de proteção adequados. Em vias com buracos ou desníveis, a possibilidade de acidente é grande”, alerta.
Mobilidade e Segurança
A Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob-DFesclarece que os patinetes ainda estão em período experimental, após isso, os dados coletados nos primeiros 90 dias de testes subsidiarão um credenciamento futuro, permitindo que outras empresas ofereçam o serviço na cidade. A segurança dos usuários é garantida por um sistema de controle de velocidade via GPS, que limita os patinetes a 20 km/h em ciclovias e ciclofaixas, 15 km/h em vias urbanas e 6 km/h em áreas de segurança.
Segundo o diretor de Policiamento e Fiscalização de Trânsito do órgão, Glauber Peixoto, a regulamentação desses dispositivos está estabelecida na Resolução 996/2023 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). A norma estabelece que esses equipamentos podem circular em calçadas, ciclovias e algumas vias públicas, com limites de velocidade específicos.
“Nas áreas de circulação de pedestres, a velocidade máxima permitida é de 6 km/h. Em ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas, o limite segue a regulamentação do órgão responsável pela via. Já em vias locais e coletoras, onde a velocidade máxima permitida é de até 40 km/h, os patinetes devem seguir as mesmas regras de conduta das bicicletas, utilizando os bordos da pista de rolamento”, detalha Peixoto. No entanto, esses equipamentos não podem transitar em faixas de rolamento de vias urbanas arteriais, de trânsito rápido ou em rodovias. Além disso, o Detran fiscalizará o uso correto do micromóvel nas vias urbanas do Distrito Federal.
Valores
» De segunda a sexta-feira, a ativação custará R$1,99. Já o valor por minuto depende da faixa horária:
Das 5h às 10h: R$ 0,25;
Das 10h às 17h: R$ 0,39;
Das 17h às 5h: R$ 0,49;
Aos sábados e domingos, a ativação custa R$ 2,99, e o preço do minuto varia de R$ 0,70, das 5h às 17h, e R$ 0,90, das 17h às 5h.
» O pagamento é feito digitalmente, via aplicativo, com opções de cartão de crédito e pix.
*Estagiária sob supervisão de Márcia Machado
Fonte Correio Braziliense